O Brasil é um
país miscigenado pelas diferentes origens e imigrações que recebemos desde
sempre, e esse motivo, por si, justifica a importância de este ser um tema
abordado e refletido pelas crianças. As diferenças biológicas, que são fruto
dessa miscigenação por muito tempo gerou controvérsias sobre a questão das
raças; e que ainda hoje constatamos como um fator de preconceito no ambiente
escolar.
Diante disso, percebe-se que a questão de raças é
polêmica e passível de diferentes interpretações, principalmente pelas crianças
por não compreender como o nosso país foi povoado por pessoas com
características tão diferentes, sendo muitas vezes influenciadas por
comportamentos de pessoas adultas que reproduzem historicamente a ideia de que
uma raça sobre põe a outra. Embora a nossa formação histórica seja
caracterizada pela miscigenação étnica, racial e cultural, faz-se necessário um
olhar cuidadoso e atento ao nos aproximarmos dessa questão. O contexto
histórico, que envolve essa característica nacional, origina-se da dominação e
da exploração do trabalho escravo. A ideia de nação mestiça, no Brasil, é
resultado de um processo colonizador violento, e não apenas da relação amistosa
entre as raças. Como destaca Gomes (2005), a partir da reflexão sobre
Casa-grande e senzala, de Gilberto Freyre,
Não há
como admitir que uma sociedade em que as relações entre diferentes grupos
étnico-raciais foram construídas/pautadas no trabalho escravo, na dominação e
na exploração possa se sentir orgulhosa da forma como, historicamente, se deu o
seu processo de mestiçagem. (GOMES, 2005,
p. 59)
Para realização
do nosso trabalho partimos do ponto de vista teórico de MARILLENA CHAUNI, que
em seu livro, Brasil Mito fundador e sociedade autoritária, objetiva discutir o
‘mito fundador’ do Brasil, uma representação simbólico-ideológica que consegue
fazer com que haja de parte de brasileiros um sentimento de pertença, de
enaltação das riquezas naturais, de identificação pela língua nesta mistura
multicor, embora as condições sociais nem sempre indiquem tal pertença,
inclusão e participação cidadã.
A autora
descreve diversas expressões presentes no imaginário popular brasileiro a
respeito do país Brasil, suas qualidades, riquezas e potencialidades. Trata-se
de uma crença generalizada que tem uma grande força de persuasão no sentido de
resolver “imaginariamente uma tensão social” e produzir uma “contradição que
passa despercebida”. Mito fundador como conceito teórico para trabalhar essas
questões. Sua definição para mito é: “solução imaginária para tensões,
conflitos e contradições que não encontram caminhos para serem resolvidos no
nível da realidade” (p. 9). Mitos não é somente solução imaginária, mas
narrativas que querem instaurar valores de comportamentos.
Na fusão dos
sentidos, a autora chega a um consenso que mito nada mais é que “aquele que não
cessa de encontrar novos meios para exprimir-se, novas linguagens, novos
valores e ideias, de tal modo que, quanto mais parece ser outra coisa, tanto
mais é a repetição de si mesmo” (p. 9). A mesma argumenta a questão da Nação
como semióforo. Semióforo é uma palavra grega, onde semeion “sinal” e phoros
“trazer para frente”, “expor” e “pegar”. O significado do conceito é expresso
pela autora da seguinte forma: “um signo trazido à frente ou empunhado para
indicar algo que significa alguma outra coisa e cujo valor não é medido por sua
materialidade e sim por sua força simbólica” (p.12).
Marilena Chauí
faz análises da história e traz para a atualidade, demonstrando como dessa
história resulta uma sociedade hierarquizada e verticalizada, permeada de
desigualdades e relações de mando-obediência e que, ao supor que o
autoritarismo é um fenômeno político que por vezes afeta o Estado, esquece-se
de que ela mesma é que é autoritária e age conforme ideologias de longa data e
conforme a “cultura senhorial”.
Contudo, por
meio destas discussões esboçadas por Chauí, podemos pensar que o conceito de
semióforo abarca também uma relação entre mito e identidade. Nosso objetivo em
fazer uma breve síntese do livro que usamos como referencial nas nossas
regências foi para expressar o quanto a leitura deste livro foi importante para
nosso planejamento, pois fizemos um trabalho riquíssimo de reflexão com os
alunos, tendo como tema central “Descobrindo a Origem de Nossos Antepassados”
numa perspectiva crítica.
O início, como era previsto, se deu com a dinâmica sobre a diversidade
humana encontrando a cara metade, com essa dinâmica tínhamos três objetivo,
primeiramente era formar duplas, perceber a diversidade humana que existe no
nosso país, bem como levantar o conhecimento prévio dos alunos em relação ao
tema. Este momento foi muito enriquecedor e norteador, pois percebemos que a
turma a princípio não estavam habituados a trabalhar com colegas que tinham
poucas afinidades. Alguns alunos apresentavam resistência dizendo “não quero
fazer dupla com ela ou ele”, referindo-se ao colega do lado, “ele (a) não sabe
de nada não quero fica perto dele ou dela”, os meninos preferiam fazer dupla
com menino e vice e versa. Porém, aos poucos os alunos foram ficando a vontade,
logo após a dinâmica expressaram o desejo de continuar trabalhando em dupla,
desta vez não existia mais a resistência que apresentaram no início.
Durante a dinâmica cada dupla fez uma exposição oral apresentando à
imagem correspondente a cara metade encontrada por eles no início da dinâmica,
o que nos surpreendeu foi as atitudes de alguns alunos frente as imagem
apresentada que caracterizava a diversidade humana. Neste momento alguns alunos
começaram relacionar as característica físicas a classe social, pois quanto foi
apresentada a imagem de um negro um aluno atribui a ele a frase – cara de
cavalo – ele é muito feio- outros disseram que ele era pobre - quanto foi
apresentado a imagem de uma mulher branca, os alunos começaram a levantar e falar -esta é rica- é filhinha de
papai- é bonita- tendo por justificativa
para essas afirmação o fato da jovem ser branca e possuir joias -
na imagem da índia e de outros faziam comentário de que eram feios e
pobre. Analisando este momento percebemos que ainda existe um preconceito muito
forte entre os alunos no que diz respeito das características físicas das
pessoas.
No decorre da socialização questionamos a turma sobre cada afirmação que
surgiram durante a discussão, para que os alunos começassem a refletir sobre o
próprio discurso isso fez com que alguns mudassem de discurso e no final
compreenderam que a concepção de bonito e feio atribuída as características
físicas estão condicionas algumas heranças históricas que cada grupos social
possui, ou seja, que a forma como pensamos é influenciada pelo contexto social.
Sobre isso Verani (1990) afirma que:
As
explicações sobre a diversidade humana sempre ressaltaram com mais ênfase os
aspectos negativos dos “outros”, tendo como parâmetro as características
positivas, físicas e culturais, dos povos sob cujo ponto de vista se pensava a
diferença. Chega-se até a negar a qualidade de “humano” aos demais povos.
Para ampliar a
discussão realizamos uma leitura com o livro Minha Família é Colorida, para
explicar as diferenças que existe nas pessoas, como a seleção natural pelo
meio, na visão de Charles Darwin, como também as heranças genéticas que o conto
trás. E para trabalhar o sistema de escritas. Como foi detectado durante a
entrevista e nas observações que a maioria da turma estava fora do nível de
aprendizagem de leitura e escrita, ou seja, não estão alfabetizados. Diante
disso, sentimos a necessidade de incluir na sequência didática um momento de
alfabetização, pois para Val (2006, p. 19), “pode-se definir alfabetização como
o processo específico e indispensável de apropriação do sistema de escrita, a
conquista dos princípios alfabético e ortográfico que possibilitem ao aluno ler
e escrever com autonomia.”
Assim,
utilizamos o mesmo conto para trabalhar o sistema de escrita, propondo uma
atividade com os nomes dos personagens da história para os alunos se
apropriarem do sistema alfabético. Na atividade foi entregue aos alunos
envelopes com as letras que formavam o nome de um personagem da história para
ser montado pelos alunos. Escolhemos esta estratégia, de trabalhar com palavras
estáveis, para os alunos usarem o seu próprio nome como referencias na escrita
de outro nome próprio, quanto para analisar as suas partes e pensar o
funcionamento do sistema de escrita. Durante esse processo observamos as
primeiras hipóteses de escritas apresentada pelos alunos na montagem dos nomes,
as mesmas foram problematizadas para que os alunos elaborassem novas hipóteses,
esse momento possibilitou aos alunos a aprendizagem de determinada letras que
tinham dificuldades de identificar.
Na segunda aula trabalhamos com o tema a Formação do povo brasileiro.
Começamos a aula realizando a dinâmica Trocando Crachás, neste momento os alunos circularam na sala a
procura do dono do crachá que tinha pegado. Durante essa dinâmica percebemos
que os alunos tinham o cuidado de entregar o crachá a pessoa certa, pediam
ajuda aos colegas na leitura dos nomes, percebemos que nesta aula as crianças
já não apresentava uma resistência na interação como os colegas como foi o caso
da aula anterior. Ainda neste momento os alunos socializaram o autorretrato
confeccionado na aula anterior. Foi gratificante vermos os discentes falando do
próprio autorretrato, o entusiasmo deles foi contagiante.
Na referida aula passamos uma vídeo com a música - Inclassificáveis de
Arnaldo Antunes, tomando como ponto de partida a letra da música para
introduzimos a discussão sobre a miscigenação racial no Brasil, fazendo um
levantamento das matrizes raciais originaria do povo brasileiro. Para este
momento propomos uma atividade em trio, na qual os alunos produziram dedoches
de papel como gravura das primeiras etnias do Brasil, e em seguida os trios
desenvolveram uma mini história sobre o processo de desenvolvimento das raças
do Brasil, narrando a partir de uma nova visão da história, conforme discutimos
com eles. Houve neste momento grande participação e todos sem exceção
participavam da apresentação, os alunos mostraram entusiasmo. Este momento foi
muito gratificante, pois vimos a felicidade dos alunos de construir uma
história oralmente e expressá-la para os colegas. Foi muito produtiva, sentimos
a interação dos alunos durante a apresentação dos colegas, no final das
apresentações fizemos uma grande socialização, na qual todos expressaram as
dificuldades encontradas durante o processo de desenvolvimento da história e o
que mais gostaram de fazer. Ficou clara a satisfação das crianças em fazer essa
atividade, os alunos nos relatarão que gostarão de fazer os trabalhar usaram
frase como “fazer trabalho assim é bem melhor”, “eu aprendi muito hoje” entre
outras que nos deixaram muito felizes. Diante disto, percebemos que com a
diferente mudança de método pudemos despertar nos alunos uma nova perspectiva
de aprendizagem. Pois os alunos participavam, perguntavam e se sentiram muito
mais à vontade. Ficamos muito satisfeitas com o resultado porque apesar de
alguns terem um pouco de dificuldade na interação, houve uma participação
efetiva de todos.
No último momento dessa aula retornamos a dinâmica inicial, fazendo uma
breve introdução sobre o gênero lista na qual fizemos coletivamente as
organizações dos nomes dos crachás, em ordem alfabética. Questionamos outras
formas de se organizar uma lista, percebemos que os alunos tinham noção do que
seria uma lista, porém ainda não tinham conhecimento da importância da mesma
para a organização da vida social.
Percebemos a partir dessa aula
que é de fundamental importância trabalhar como os alunos desde cedo os
diversos tipos de gêneros textuais que circulam na meio social e que os alunos
têm contato no dia a dia, porém desconhecem a finalidade de cada um desses
gêneros. Sabemos que os gêneros textuais são línguas em uso social, seja quando
usamos a língua na escola, seja quando usamos a língua fora dela para nossa
comunicação. Os gêneros são instrumentos de comunicação indispensáveis a todos
os sujeitos. Assim, as crianças devem trabalhar com todos os tipos de gêneros,
desde as séries iniciais, como com panfletos, jornais, cartas, receitas,
convites, anúncios e listas entre outros. Nesse sentido, Marcuschi observa que
os gêneros textuais,
Contribuem para ordenar e
estabilizar as atividades comunicativas do dia-a-dia. São entidades
sócio-discursivas e formas de ação social incontornáveis em qualquer situação.
No entanto, mesmo apresentando alto poder preditivo e interpretativo das ações
humanas em qualquer contexto discursivo, os gêneros não são instrumentos
estanques e enrijecedores da ação criativa. Caracterizam-se como eventos
textuais altamente maleáveis, dinâmicos e plásticos. Surgem emparelhados a
sociedades e atividades sócio-culturais, bem como na relação com inovações
tecnológicas, o que é facilmente perceptível ao se considerar a quantidade de
gêneros textuais hoje existentes em relação a sociedades anteriores à escrita
(MARCUSCHI, 2005, p.19).
Consideramos de suma
importância o trabalho com a diversidade de gêneros em sala de aula, uma vez
que isso abre caminho para a ampliação da competência discursiva do estudante
em formação.
Para a
realização da terceira regência trabalhamos o tema diversidade cultural no
Brasil, nesta aula partimos da dinâmica do Jogo da memória- pluralidade
cultural, durante o jogo os alunos demostraram curiosidade sobre as gravuras
das cartas. Quando o jogo acabou fizemos uma discussão sobre a diversidade
cultural existente no nosso País. Houve um momento de levantamento prévio sobre
o assunto na qual realizamos um trabalho oralmente com os alunos, em seguida
assistimos a um vídeo sobre a diversidade da cultura brasileira. Os alunos
estavam todo tempo atentos ao vídeo, logo após a apresentação realizamos a discussão
da diversidade cultural por maio de um mapa-múndi, no qual destacamos os cincos
continentes- a América, a Europa, a Ásia, a África e a Oceania ressaltando que
eles são divididos em países, e que cada um tem costumes, tradições, festas,
músicas, danças, religiões diferente um do outro. Neste momento também
relembramos o assunto da aula anterior sobre a Formação do povo brasileiro.
Na sequência apresentamos aos alunos diversas listas como com culinária,
danças, dialeto, música e outras que circulam socialmente como de telefone,
profissões, compras, frequência. Destacamos juntamente com aos alunos as
características do gênero lista, em seguida os alunos refletiram sobre essas
características analisando outras listas. Como atividade, dividimos a turma em
grupo e cada um ficou responsável para pesquisar um tipo de lista de elementos
culturais apresentado acima. Esta atividade foi muito interessante, pois os
alunos usaram enciclopédia para realização da pesquisa. Nesta atividade os
alunos apresentaram dificuldade por não saber manusear a enciclopédia, mesmo
diante da dificuldade as crianças demostravam vontade em aprender a manuseá-la.
Realizada a atividade os alunos confeccionaram cartaz com os resultados da
pesquisa, em seguida realizamos uma socialização das produções. Mais uma vez
ficou evidente que o método usado foi bem aceito pelos discentes.
Finalizamos a nossa sequência didática, com atividades que resgatavam as
aprendizagens que foram construídas durante todo o processo pedagógico que vivenciamos.
Assim trabalhamos com a temática das relações étnico-raciais por envolver todo
o conteúdo visto nas aulas. Semelhantemente
as outras aulas iniciamos com uma dinâmica (círculo fechado) com intuito de
verificar se existia a discriminação entre os alunos diante das características
físicas e sociais. Na aplicação da dinâmica percebemos que a maioria dos alunos
aceitaram uns aos outros sem haver preconceito, mas um aluno resistiu em fechar
o círculo por não querer tocar na colega, naquele momento preferimos não
intervir, uma vez que iriamos fazer uma discussão sobre como se sentiram os
alunos que não conseguiram entra no círculo, bem como a atitude do aluno que
não aceitou a colega. Na discussão os alunos expões os seu sentimento,
concepções e os aprendizados, a partir dos discurso voltamos a refletir sobre
os conceitos que ainda eram motivo de dúvidas.
Para uma mostrar aos alunos a influência que as
pessoas e o meio social tem na nossa vida, apresentamos a filme o contador de história,
que narra um pouca a relação do menino pobre com uma pedagogo Francesa.
Percebemos que a turma não se surpreenderam com as algumas cenas que
apresentava violência, fome, e nem apresentaram emoções, por se tratar de algo
que acontece no seu cotidiano. Em seguida explicaremos que as relações entre as
pessoas se dá pela troca de experiência, por meio da confiança, pelo respeito
às diferenças, questionando aos alunos se observaram estas relações no filme e
em que parte, e acima de tudo a necessidade que temos do outro para vivermos em
sociedade.
Na produção final do gênero lista pedimos para os
alunos produzissem individualmente uma lista das dificuldades enfrentadas pelo
personagem e posteriormente comparar a sua lista com as dos colegas para
verificar os critérios que cada um usou. No final fizeram uma lista
coletivamente na lousa com as mesma dificuldades para analisar se a produção
individual estava conforme as característica do gênero. Evidenciamos que as
produções apresentaram poucos lacunas no que diz respeito as características do
gênero, como também algumas evoluções na escrita.
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